Mesmo após 7 anos da morte de Cristiano Araújo, há uma lacuna na música sertaneja que ainda não foi preenchida
Em 24 de junho de 2015, o cantor sertanejo Cristiano Araújo estava na companhia da namorada, Allana Moraes, saindo de um show em Goiás, quando o carro em que viajavam capotou. Ambos faleceram. O empresário e o motorista, que também estavam no carro, saíram quase ilesos. Passados 7 anos deste trágico dia, ainda há um espaço deixado por Cristiano na música sertaneja que ninguém conseguiu preencher.
O acidente deixou milhões de fãs órfãos e um país inteiro perplexo diante de um talento que foi morar tão cedo ao lado de Deus. Inclusive eu. Naquela época, eu trabalhava demais para conseguir estar atenta aos novos talentos da música que iam despontando aos montes. Se você não se lembra, Marília Mendonça gravou seu primeiro DVD no mesmo ano em que perdemos Cristiano Araújo, e “Infiel” estourou alguns meses depois. O resto, você sabe, é história, e daquelas que tem semelhanças demais para serem ignoradas.
Lembro tão bem daquele 24 de junho, uma quarta-feira. Exatamente um dia antes, fui ao supermercado e ouvi uma música que me chamou muito a atenção. Fiquei imaginando de quem era aquela voz tão forte, aquele jeito de cantar firme e, ao mesmo tempo, doce. Cheguei em casa e fui direto procurar a música na internet. A canção se chama “Quando Tem Que Acontecer” e, naquele momento, conheci Cristiano Araújo.
Passei o resto da noite assistindo aos seus vídeos e no dia seguinte acordei com a notícia de sua partida. Aquele cantor incrível que eu conheci um dia antes, a quem já admirava, não estava mais aqui. Uma sucessão de erros, o cansaço da vida na estrada, a vontade cega de ir para casa, a imprudência de querer chegar logo, a exaustão de pegar estrada sem cinto de segurança. Os excessos de uma vida de artista, que dá muito, mas cobra caro.
Cristiano Araújo estava no auge, mas fazia muito pouco tempo que eu acompanhava o universo sertanejo. O que começou com a admiração por uma dupla sertaneja se tornou uma história maluca de fã e, depois, virou trabalho. Mas isso eu conto em outra oportunidade. Aliás, já estou devendo essa história pra vocês faz tempo. Juro que um dia eu pago a promessa.
Hoje, passados 7 anos que perdemos Cristiano Araújo, olho para trás e me pergunto por que não o esquecemos, se há tantos outros talentos no mercado sertanejo? Por que ele faz tanta falta? Não é somente porque ele tinha um talento enorme e um carisma como poucas vezes se viu em um cantor. Não é só porque em meio aos holofotes, ele sempre mostrava o ser humano por trás do artista.
Entre outras razões, Cristiano Araújo nos faz tanta falta porque nossa vida com ele foi interrompida. Todas as perdas trágicas se tornam emblemáticas e, consequentemente, duras de esquecer. Foi assim com João Paulo (em 1997), Leandro, apenas um ano depois e, mais recentemente, com Marília Mendonça. Ver um grande talento ir embora é sempre duro. Quando se morre jovem e no auge, o trauma se intensifica muito. Fica na boca aquele gosto amargo do que ainda poderia ter sido, mas não deu tempo.
Ainda assim, acredito que o baque causado pela perda de Cristiano Araújo (e o caso de Marília Mendonça pode ser visto pelo mesmo prisma) é que não apareceram depois deles talentos que ocupassem o espaço que esses artistas deixaram vago quando saíram de cena. Não estou dizendo que não tem gente talentosa no sertanejo, porque tem bastante. Todavia, não se pode perder de vista que quando Cristiano estourou, Spotify e afins não eram nem perto das potências que são hoje. Não havia números fabricáveis, os streamings (aos milhões, diga-se) aconteciam de forma bem mais orgânica. Saber cantar ainda era pré requisito para se manter em frente aos holofotes.
Cristiano era absurdamente carismático e isso transcendia a voz. Artista bom une técnica, afinação, potência, carisma, presença de palco, decisões de gestão de carreira acertadas e um tiquinho de sorte. Além de tudo isso, ele ia bem nas rádios, era bom de palco e arrastava muita gente a todos os seus shows. Honestamente, para mim, sucesso mesmo é quando o artista é aclamado diante do seu público. Nada substitui o ao vivo.
De 2015 pra cá, o mercado mudou bastante. Artistas novos surgiram e desapareceram na mesma velocidade, gente muito boa segue buscando um lugar ao sol e gente de talento musical bem meia boca tem estado na boca do povo. Entre os artistas masculinos solo, seguimos com Luan Santana e Gusttavo Lima dominando as paradas. Além desses, dentre os que já apareceram para o grande público, só Murilo Huff tem potencial para ocupar o nicho de mercado que Cristiano Araújo deixou vago.
Por aqui, o que nos resta é nos alimentar das lembranças que Cristiano Araújo nos deixou, honrar a sua memória ouvindo o que de mais bonito ele nos deixou: sua voz e suas músicas. Não deixar as caixas de som silenciarem, apesar de sabermos que as luzes desse palco se apagaram. Ainda havia tanto para viver, tantos momentos que poderíamos ter tido, embalados por sua voz inconfundível. Que saudades do nosso eterno causador de efeitos!
Sobre Dyala Assef: colunista do Movimento Country, professora universitária, cantora amadora nas horas vagas e amante de todos os tipos de boa música.