Simaria, da dupla com Simone, anuncia pausa na carreira, o que enfraquece a representatividade feminina no sertanejo; saúde mental preocupa fãs
Quando a cantora Simaria, dupla da irmã Simone (pelo menos por enquanto) anunciou que daria uma pausa na carreira, após a desastrosa entrevista concedida ao jornalista Léo Dias, fiquei me perguntando sobre as últimas vezes em que mencionamos as coleguinhas aqui no Movimento Country. Também tive a impressão de nunca ter dedicado uma coluna a elas e uma breve pesquisa mostrou que minha memória não me traiu. Até mesmo quando escrevi sobre as candidatas a ocupar o posto deixado por Marília Mendonça, deixei Simone e Simaria de fora. É, meus amigos, não são bons tempos para as irmãs.
Na verdade, ocupar o espaço deixado por Marília Mendonça jamais pareceu uma tarefa fácil, diante da envergadura da artista que Marília foi. Com o passar do tempo, fica cada vez mais claro que não há no horizonte substitutas à sua altura, não importa o quesito que se analise, nem em carisma e nem repertório. Não basta saber cantar (isso várias sabem fazer bem) e estar às voltas com problemas na justiça, como noticiamos a respeito de Maiara e Maraisa, e agora o afastamento de Simaria para tratamento de sua saúde mental em nada ajudam a representatividade feminina no sertanejo. Muito pelo contrário.
O sertanejo sempre foi, historicamente, dominado por homens e duplas masculinas. Ainda que possamos mencionar mulheres pioneiras no segmento, que em muito ajudaram a abrir caminho para a geração atual, como Roberta Miranda e, antes ainda, Inezita Barroso e as Irmãs Galvão, romper a barreira de gênero e cair nas graças do grande público segue sendo trabalho árduo e êxito de poucas. O estouro de Marília Mendonça, porém, rompeu barreiras adicionais e trouxe consigo uma lista de nomes femininos que se tornaram sucesso nacional, incluindo Simone e Simaria.
Dito isso, impossível não lamentar que algum desses nomes femininos se enfraqueça no mercado, o que vem acontecendo com Simone e Simaria há algum tempo. Apesar de alguns hits recentes, como “Foi Pá Pum“, “Vontade de Morder” (com Zé Felipe) e “Amiga“, os desentendimentos entre as irmãs já faz tempo vem ofuscando sua produção musical. A saída de Simaria de cena, ainda que muito oportuna, uma vez que a cantora, claramente, precisa de auxílio médico, enfraquece não só o nome da dupla mas também o chamado “feminejo” como um todo.
Aliado a tudo isso, não se pode perder de vista que um mundo dominado por homens, não raro, significa também um mundo machista, embora as duas coisas não sejam sinônimos em 100% dos casos. Mulheres são constantemente taxadas de loucas, controladoras, arrogantes e desequilibradas e já li vários comentários tristes nas redes sociais levando a pausa de Simaria e seus problemas de saúde mental por esse lado. Se fosse um homem em seu lugar, eu duvido muitíssimo que esse tipo de coisa estaria sendo escrita por aí. Mulheres, vocês sabem bem do que eu estou falando.
Se houvesse qualquer tipo de equidade de gênero, a entrevista da ex cantora do “Garota Safada” de Wesley Safadão estaria também na boca do povo. Não sei vocês, mas saber que o astro da banda não deixava a colega (e o restante da equipe) compartilhar um banheiro de ônibus e obrigava as moças a fazer as necessidades no mato me parece tão absurdo quanto condenável. Mas, claro, melhor falar da outra cantora que precisa tratar a saúde mental. Ninguém está livre disso, pessoal. Não cuspam para cima.
Estamos acostumados a ver Simone e Simaria como dupla e, caso as rusgas entre as duas se sobreponham à carreira e a dupla venha a acabar, seguir em carreira solo deve ser duplamente árduo para ambas. Não apenas porque sacramenta a derrocada de um projeto que tinha muitos elementos para ser bem mais duradouro, mas, principalmente, porque as obriga a descer muitos degraus e recomeçar do zero. Um péssimo negócio para a carreira e, consequentemente, para o bolso.
Duplas que não se entendem não são exatamente uma novidade. Corre no miúdo o relacionamento protocolar e a falta de sintonia nos bastidores de Jorge e Mateus, por exemplo. Dentre aqueles que optaram pela dissolução da parceria e pela carreira solo, nunca mais foi a mesma coisa e, eventualmente, várias delas se uniram novamente em prol da longevidade na música. Edson e Hudson (que estão em turnê nacional) são, nesse sentido, um dos exemplos mais emblemáticos, mas há outros, como Rick e Renner e Gian e Giovani.
Acredito que haverá novos capítulos dessa novela, mas sinceramente, espero que da próxima vez que virmos Simaria, ela esteja mais leve, sem o semblante e a postura de quem carrega o mundo nas costas. Às vezes a gente carrega porque quer, mas outras porque precisa. Na maior parte das vezes, os revezes da vida misturam as duas coisas. Resignificar de verdade um passado com tantas histórias tristes é o maior sucesso que um ser humano pode alcançar. Muito mais difícil do que emplacar um hit.
Sobre Dyala Assef: colunista do Movimento Country, escritora, professora universitária e ouvinte voraz de todos os estilos de boa música.